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sábado, 26 de junho de 2010

As armadilhas chilenas

De todos os possíveis cruzamentos nas oitavas de final, o Chile era o mais tranquilo. Não pelo time de Marcelo Bielsa ser mais fraco que a Suíça. A facilidade está na vocação ofensiva da equipe, que não mudou seu estilo de jogar nem quando enfrentou a poderosa Espanha. Se o Chile atacar como fez em Santiago, nas Eliminatórias, o contra-ataque brasileiro deve decidir o jogo até com certa facilidade.

Porém, é uma partida repleta de riscos. Os chilenos mostraram alguma evolução defensiva contra os espanhóis. Deixaram espaços, mas não atacaram desordenadamente nem quando perderam o jogo. Se não bastasse isso, ainda há o possível desfalque no meio campo brasileiro. Felipe Melo é destemperado e afobado, mas dá mais qualidade na saída de bola do que Josué.

O ex-sãopaulino - que hoje é capitão do Wolfsburg da Alemanha - dá mais poder de marcação ao time, mas perdeu a vaga de titular depois do jogo contra a Colômbia, ainda pelas Eliminatórias, porque não conseguia fazer o jogo fluir com um mínimo de rapidez. Se os chilenos marcarem a saída de bola da Seleção, como Portugal fez em alguns momentos, a partida será bem complicada para o Brasil.

O mais certo seria Dunga escalar Ramires na equipe titular ou até mesmo recuar Elano, mantendo Daniel Alves. O Chile é um adversário rápido e habilidoso, que pode complicar se Dunga não entender os riscos da partida. A ver.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Flamengo: uma vitória que só fez mal

O título brasileiro do Flamengo foi bonito, indiscutível e, pelo que o time apresentou, merecidíssimo. Contudo, veio em péssima hora para um clube endividado, desorganizado e sem comando. Um período atípico, onde "os planetas se alinharam" fez com que os jogadores-problema - Adriano, Bruno (Foto Cleber Mendes), Juan, Petkovic - da Gávea conseguissem ficar calminhos, que a diretoria não fizesse nenhuma grande burrada e que a oposição maneirasse na interferência. Mas isso era temporário e a conquista só serviu para que os erros de sempre fossem tolerados, a cobrança por uma conduta mais profissional de todos os envolvidos diminuísse e os para que os egos se inflassem ainda mais.

A prova disso é o 2010 repleto de polêmicas e fatos mal-explicados nos lados da Gávea. Patrícia Amorim, que prometia uma mudança radical no clube, se limita a equilibrar as mesmas figuras de sempre. Marcos Braz, talvez iludido pelo triunfo, colocou o carro na frente dos bois e tomou uma série de decisões equivocadas. Andrade não tem mais o comando do grupo e, pior, travestiu-se de uma arrogância desmedida para alguém com apenas uma conquista expressiva na carreira de t écnico. Já é quase certo de que seu ciclo no clube acabou.

E há ainda o caso dos jogadores. Adriano parece ter se convencido novamente de que pode jogar bem em qualquer circunstância, mesmo sem estar devidamente preparado para isso. Este ano sua vida pessoal rendeu muito mais manchetes do que seus gols, para o azar dos rubro-negros. Petkovic, o maior responsável pela campanha do hexa, entrou em rota de colisão com dirigentes, comissão técnica e companheiros - talvez até por não concordar na forma como as coisas estão sendo conduzidas. Isso sem falar de vários outros episódios estranhos, como a barração de Angelim, o desempenho pífio de Kleberson e Alvaro...

A verdade é que o Flamengo, que tentava se achar, se perdeu de vez. Hoje o clube é provinciano e amador, no pior dos sentidos. Se contenta em ganhar campeonatos cariocas e se proclamar "Rei do Rio", quando deveria ter ambições nacionais e continentais. Mais uma vez, a virtual eliminação da Libertadores (o Fla depende de uma combinação de resultados para prosseguir) acena com a realidade: o Flamengo contenta-se com pouco, gaba-se como se tivesse muito e decepciona na hora H. Resta ao rubro-negro torcer contra os rivais hoje e, principalmente, torcer para que o clube siga um projeto sério de estruturação, condizente com as ambições que uma equipe de sua tradição deve ter.

Caso isso não ocorra rápido, o Flamengo corre o risco de perder até mesmo sua hegemonia estadual, visto que Vasco e, principalmente, Botafogo seguem projetos modernos de reestruturação.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Botafogo no Brasileirão

O Botafogo foi campeão carioca com enormes méritos, Joel Santana fez o trabalho de sua vida e vários jogadores - como Caio, Somália, Fahel e Tulio Souza - se destacaram muito mais do que era esperado no começo do ano. Ainda sim, parece quase uma unanimidade falar que este elenco não é suficiente para que o clube faça uma boa campanha no Campeonato Brasileiro. O assunto do momento é a barca que deve partir de General Severiano, com embarque previsto para a Praia Vermelha. Apesar do mistério sobre quem fica e quem sai, o CENA ESPORTIVA analisa o elenco alvinegro para mostrar carências e apontar os possíveis dispensados/emprestados.

OBS: os jogadores serão colocados na posição em que estão sendo mais utilizados atualmente.

GOLEIROS

Jefferson (foto) é títular absoluto e certeza de segurança no gol, especialmente depois ser o herói do título estadual. Seu contrato deve ser extendido por mais dois anos, garantindo assim sua permanência. Os outros jogadores da posição são todos jovens promissores: Renan (20 anos, já com experiência no time titular), Milton Raphael (18 anos, destaque na base) e Luis Guilherme (17 anos, titular da seleção brasileira sub-17 e pretendido pelo Arsenal)

Análise
: Não há com que se preocupar. O titular da posição está entre os melhores do Brasil e sua experiência pode ajudar muito no desenvolvimento dos jovens promissores, hoje reservas.


O que precisa
: Nada
Podem sair: Ninguém

ZAGUEIROS

Fahel, volante de origem, se firmou jogando como terceiro zagueiro e é homem de confiança de Joel. Da mesma forma, Fábio Ferreira foi um dos grandes destaques da equipe nos jogos decisivos e garantiu seu espaço no time titular. Antônio Carlos completou a defesa alvinegra na decisão, mas tem a sombra de Danny Morais, contratado junto ao Internacional já com a temporada em andamento. Além deles, o setor ainda conta com Wellington, remanescente do ano passado, o jovem Edson, que teve poucas oportunidades e o prata da casa Alex Lopes.

Análise: Hoje o Botafogo pode confiar em dois dos seus titulares: Fahel e Fábio Ferreira. O terceiro homem, Antônio Carlos, cometeu diversas falhas ao longo do ano e não tem qualidade para ser titular. Danny Morais foi prejudicado por não ter realizado a pré-temporada junto aos demais e não conquistou espaço no time titular. De qualquer forma, a diretoria deve se movimentar para contratar um zagueiro de bom nível, que chegue para ser titular absoluto da equipe.

O que precisa: Um zagueiro titular.
Podem sair: Edson (pouco aproveitado), Alex Lopes (jovem e pouco aproveitado, pode ser emprestado para ganhar experiência).

LATERAIS

Análise: As laterais, que eram um problema crônico do elenco no ano passado, já preocupam menos: Alessandro, que voltou ao time titular com bom futebol, tem agora a sombra de Jancarlos. Na esquerda, Marcelo Cordeiro foi excelente opção ofensiva até aqui - graças aos bons cruzamentos, presença de área e bolas paradas, mas perdeu espaço no time titular para Somália, superior ao concorrente na marcação. As laterais ainda contam com os jovens Flavio Pará (na direita) e Gabriel (na esquerda), ambos da base alvinegra. Wellington Junior, outro garoto de Marechal Hermes e volante de origem, também joga tanto na direita, quanto na esquerda.

O que precisa: Um lateral esquerdo com características defensivas.
Podem sair: Gabriel e Flávio Pará, ambos por empréstimo.

VOLANTES

Análise: O setor tem um titular absoluto, Leandro Guerreiro (foto), jogador do atual elenco com mais tempo de casa e um dos símbolos do time campeão. Primeiro volante aguerrido e com excelente desarme, Guerreiro garante a segurança na cabeça de área. A disputa para jogar ao seu lado é intensa: Eduardo começou o ano como titular, mas a lentidão e o futebol burocrático apresentado irritaram a torcida. Sandro Silva, ex-Palmeiras, chegou como solução, mas depois de um começo animador teve o desempenho defensivo criticado e saiu do time. Somália sempre foi reserva, mas nas várias oportunidades que teve também não convenceu. Joel então recuperou o esquecido Túlio Souza, jogador cercado de expectativas quando chegou ao clube e perseguido por lesões, que agradou muito ao técnico nos jogos contra Fluminense e Flamengo e parece ser o titular. Além destes, o Botafogo tem Wellington Junior, Vinícius Colombiano e Felipe Lima.

O que precisa: um segundo volante capaz de levar a bola até o ataque.
Podem sair: Eduardo, Vinícius Colombiano e Felipe Lima.

MEIAS

Análise: O Botafogo procura um armador de respeito desde a saída de Maicosuel, no meio da temporada passada. Lúcio Flávio (foto), outrora ídolo da torcida, não apresentou em nenhum momento um futebol convincente e hoje é sistematicamente hostilizado pelos alvinegros. Os demais armadores do elenco – Renato Cajá, Diguinho e Rodrigo Dantas – nunca receberam oportunidades reais no time titular. O meia-atacante Edno não tem a característica pretendida pelo clube, a de organizar o jogo, mas pode funcionar se a estrutura do time mudar um pouco. Jorge Luiz, também meia-atacante, teve algumas oportunidades no começo da temporada, porém não é mais utilizado.

O que precisa: Um meia de nível internacional pode levar o Botafogo a outro patamar de competitividade. A diretoria promete uma contratação de impacto para o setor.
Podem sair: Diguinho, Jorge Luiz e Rodrigo Dantas, todos por empréstimo.

ATAQUE


Análise: Ao lado do gol é o setor mais bem provido no Glorioso. Loco Abreu e Herrera fizeram um grande Campeonato Carioca e juntos marcaram 19 gols. Além de seu “ataque Mercosul”, o Bota pode confiar na capacidade do Talismã Caio, a grande revelação do estadual. O garoto começou bem menos cotado que as promessas Phillippe Coutinho (Vasco), Vinícius Pacheco (Flamengo) e Wellington Silva (Fluminense), mas foi absolutamente decisivo na campanha alvinegra: fez sete gols, deu várias assistências e sofreu muitos pênaltis. Edno também merece respeito e briga para ser titular. Também integram o elenco os garotos da base Junior e Alex.

O que precisa: Nada. Porém, talvez fosse interessante liberar uma vaga no elenco para um atacante com características paracidas às de Abreu.
Podem sair: Junior e Alex, por empréstimo.


CONCLUSÃO

Eu apostaria que o Botafogo dispensará ou emprestará sete ou oito jogadores, ficando com cerca de trinta no elenco. Com três contratações pontuais, o grupo ficaria mais enxuto e ganharia bastante em qualidade.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Sorteio da UCL coloca favoritos frente à frente

Depois dos resultados nas oitavas-de-final, não é exagero colocar Arsenal, Barcelona, Internazionale e Manchester United um degrau acima dos demais concorrentes (a saber: Bayern de Munique, Lyon, Bordeaux e CSKA Moscou). Aparentemente, seria difícil que o título escapasse de um desses quatro. Seria porque o sorteio foi cruel e reservou confrontos absolutamente imprevisíveis nas quartas:


30/3 e 7/4
Lyon x Bordeaux
Bayern de Munique x Manchester United

31/3 e 6/4
Arsenal x Barcelona
Internazionale x CSKA

Tirando o jogo entre Inter e CKSA, no qual o time de Mourinho vai a campo com o peso do favoritismo depois da vitória categórica sobre o todo-poderoso Chelsea, não há nenhuma barbada. A França pode comemorar, pois já tem um representante nas semi-finais devido ao confronto caseiro, algo improvável com outro chaveamento. Arsenal e Barcelona duelam para mostrar quem tem o futebol mais bonito e eficiente da Europa e prometem fazer jogos épicos na Catalunha e em Londres. O renascido Bayern pega um Manchester consciente de sua capacidade e, embora esteja um pouco abaixo do rival inglês, tem Robben em estado de graça e Ribery.

Pesando momento, qualidade técnica, desempenho em momentos decisivos e até algum palpite, meus classificados seriam Bordeaux, Bayern, Barcelona e Inter. Pela primeira vez nos últimos anos não teríamos dois representantes de um mesmo país entre os quatro melhores. Se isso se confirmar, vitória para Michel Platini.

Semana que vem teremos posts especiais esmiuçando cada confronto das quartas da Champions League. Não percam!

quinta-feira, 18 de março de 2010

Os perigos do improvável sucesso milanista

Após a saída de Kaká e da escolha de um técnico novato como Leonardo, as previsões para a temporada 2009/2010 do rubro-negro eram terríveis. Havia quem considerasse um feito levar esse time à zona europeia e temesse um fracasso histórico na Champions League, especialmente depois que o sorteio da fase de grupos colocou os italianos frente a frente com os Galáticos madrilistas, comandados por Cristiano Ronaldo e, ironia do destino, Kaká.

Leonardo (e) encarou o desafio de comandar um Milan sem Kaká (d)

Depois de um começo claudicante, o time de Leonardo surpreendeu com um futebol bonito e competitivo, conseguindo resultados expressivos – o maior deles uma vitória frente ao Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu. Surpreendente também foi Ronaldinho Gaúcho, que recuperou o bom futebol e superou a desconfiança da imprensa italiana, tornando-se o principal articulador de jogadas da equipe. Já Alexandre Pato, apesar de sofrer com lesões, mostrou-se um jogador confiável e que cresce nos confrontos mais importantes. Outro pilar do time foi a dupla de zaga, para muitos a melhor do mundo, formada pelo veterano Alessandro Nesta e pelo jovem Thiago Silva.

Nem isso foi o suficiente para uma longeva jornada continental. A fácil classificação do Manchester United mostrou que o elenco rossonero não tem cancha para ser colocado entre os melhores do Velho Continente. A redução de investimentos deu à Leonardo muito mais problemas do que soluções: além da óbvia falta de peças de reposição para os principais nomes da equipe, ainda há uma absoluta carência em certas posições.

Ronaldinho: craque não evitou vexame em Old Trafford

As laterais são terra desolada, com os decadentes Zambrotta, Jankulovski e Oddo, além dos fraquíssimos Abate e Antonini. No gol, foram testados Abbiati, Dida e Storari, todos veteraníssimos, mas nenhum em condição de representar a segurança que a equipe precisa. No meio, Pirlo e Gattuso dão mostras que seu tempo está acabando, assim como Ambrosini. Flamini, de quem se esperava muito, ainda não rendeu tudo que sua passagem pelo Arsenal prometia. O ataque teoricamente é o setor que funciona melhor, com Ronaldinho e Pato em grande forma e Borriello em uma temporada, na pior das hipóteses, correta. Mas Huntelaar – contratado para ser o artilheiro de nível mundial que o time precisa – ainda não disse a que veio, limitando muito as opções ofensivas.

Pato: exemplo para futuras contrações

Com todos esses fatos e a campanha irregular no Calcio, uma classificação tranquila à próxima Uefa Champions League já se mostrava um resultado acima das expectativas, já que o time não brigaria mesmo pelo título – muito em função das duas derrotas para a rival Inter. Mas com os tropeços interistas a diferença foi gradativamente caindo e hoje é de apenas um ponto: o título que parecia impossível a cerca de um mês, agora é um objetivo realista. Até a classificação maiúscula da rival frente ao Chelsea veio a calhar, pois a fixação da Internazionale pelo título europeu possivelmente lhe fará priorizar a competição continental justamente na reta final do Italiano.


Mas o título, se realmente vier, pode ser mais uma casca de banana, como foi a conquista da UCL em 2007. Se naquela ocasião, uma geração que já dava sinais de esgotamento foi prolongada devido ao triunfo, não é de se descartar que o mesmo aconteça agora, quatro anos depois. O Milan, campeão ou não, precisa urgentemente em uma renovação radical em suas fileiras, mesmo que isso represente algumas temporadas sem resultados expressivos. Caso repita novamente o erro e não escute os apelos de seu técnico, que já pediu publicamente contratações, o Milan se arrisca a ter um time que não faz jus a sua tradição.